Gastroenterologia

Hepatite Autoimune e sua relação com Cirrose

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A Hepatite Autoimune (HAI) é um processo inflamatório crônico caracterizado por auto-anticorpo circulante e níveis elevados de globulina. É uma inflamação hepatocelular gradual podendo evoluir de Hepatite Aguda para Doença Crônica e Cirrose.

Causa da Hepatite Autoimune

Acredita-se que a causa da HAI seja um gatilho ambiental em indivíduos geneticamente predispostos. A incidência maior é em mulheres jovens em idade fértil, sendo menos comum em homens. O mecanismo específico entre genes e processo autoimune ainda é desconhecido. Os gatilhos ambientais sugeridos acima são: medicamentos, suplementos, ervas, vírus e até imunização. No entanto, é impossível identificar o indutor específico.

Teoricamente a doença é classificada em Tipo I ou Tipo II: 

  • Tipo I – Antinúcleo (AMA) Positivo e Anti Músculo Liso (ASMA) Positivo
  • Tipo II – Anti-fígado-rim (Anti LKM) Positivo

Contudo, 20% dos indivíduos que apresentam Hepatite Autoimune são anticorpos negativos. Nesses casos, o diagnóstico é por suspeição e biópsia hepática + avaliação de resposta terapêutica. Muitas vezes o diagnóstico de Hepatite Autoimune não vem sozinho, sendo o que chamamos de “síndrome de sobreposição” ou “overlap”, não sendo incomum associado a colangite.

O tratamento de eleição primária é a Azatioprina e Corticoterapia. Havendo outras opções  como Micofenolato de Mofetil e o Tacrolimus.

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Uma preocupação frequente de mulheres acometidas por essa patologia é a gestação, desaconselhada muitas vezes por seus médicos uma vez que distúrbios autoimunes e auto anticorpos positivos circulantes são fatores de risco obstétrico, bem como mortalidade perinatal.

Não são muitos os estudos nestes casos. No entanto, o número de gestações em pacientes com Hepatite Autoimune tem aumentado e devido ao melhor manejo clínico e pré-natal de alta qualidade, a gravidez não tem se mostrado com problemas para mãe e/ou filho. Principalmente nos casos de doença compensada.  Em relação ao tratamento, a Azatioprina é considerada risco D para a gravidez, segundo o FDA (nos EUA). E a Prednizona é considerada risco Grupo C, sendo esse o tratamento eleito nessas pacientes em gestação.

O Micofenolato de Mofetil e Tacrolimus são contraindicados causando malformações congênitas, baixo peso, prematuridade e infecções graves na gestante.

A amamentação também tem sido considerada segura com Prednisona e Azatioprina, apesar de que o uso dos medicamentos em bula não são indicados.

Nas “crises” de instabilidade da doença na gestação a recomendação é igual para paciente não grávida, com aumento da dose de Prednisona e com adição de Azatioprina. Assim, é prudente que a gestação só ocorra quando a HAI estiver sob controle e acompanhada em, pelo menos, 1 ano.

Qual é a relação com Cirrose

A Cirrose pode ocorrer como apresentação inicial no momento do diagnóstico. A gravidez em mulheres cirróticas compensadas não é mais temida e nem contra indicada, mas se relaciona com taxas aumentadas de pré-eclâmpsia, baixo peso ao nascer e prematuridade. O acompanhamento com nutricionista e evitar o sobrepeso fazem parte de um pré-natal de qualidade e importante para o sucesso da gestação.

A realização de exame de endoscopia alta na paciente cirrótica compensada em pré-gestação também é  muito importante para a avaliação de varizes esofagianas, sendo o terceiro trimestre gestacional correlacionado a maior risco de sangramento por esse tipo de variz, uma vez que apresenta maior aumento na pressão portal.

Me detive um pouco em gestação, pois por ser uma doença prevalente em mulheres em idade fértil, a HAI gera muita dúvida no que se trata ao desejo de engravidar.

Espero ter contribuído com informações úteis para o alerta em relação a essa patologia e sua possível evolução para Cirrose e me coloco a disposição para responder possíveis dúvidas. 😉

Alerta: você sabe com quem se consulta?

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O artigo de hoje é um alerta! 🆘

Você sabe o que está acontecendo com a medicina? E com a qualidade do serviço médico?

Eu tenho 23 anos de formada em Medicina, 18 anos como especialista em Gastroenterologia e 15 anos de atuação em Hepatologia (doenças do fígado). Voltei para as bancadas de pós-graduação em 2018, quando senti a necessidade de aprender mais sobre nutrição e cursei Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Logo em seguida surgia na minha vida a Medicina Integrativa e as Terapias Integrativas. Por ser totalmente ignorante no assunto tive o profundo desejo de estudar, terminando em 2019 no Albert Einstein a minha pós-graduação em Saúde Integrativa.

Fiz esse preâmbulo de minha trajetória para falar do quanto eu acho assustador as mudanças nos últimos 10 anos da Medicina.

Fatos bons aconteceram como a informação mais popularizada e a chance de compartilhar o conhecimento com o paciente. Contudo, a desvalorização do profissional médico e da qualidade de serviço apresentada é o que de muito ruim tenho percebido.

Números da evolução dos Cursos de Medicina

Nos últimos 10 anos, o número de novas faculdades de Medicina cresceu e muitas delas com princípios éticos e qualidade de ensino muito aquém do desejável. Questionáveis formações infelizmente acabaram gerando questionáveis profissionais graduados.

Os dados que norteiam esse panorama podem ser facilmente pesquisados na internet! Veja aqui um link com mais informações.

Em 2010, o Brasil apresentava 179 faculdades de Medicina entre públicas e privadas. Em 2019, esse número chega a 340 unidades de ensino, e qual o problema disso? Nenhum,  se todas essas novas instituições fossem fiscalizadas e tivessem a estrutura necessária para a formação de um profissional médico.  O que não é a situação atual!

Nos últimos dez anos vi escolas tradicionais públicas de Medicina sendo destruídas pela falta de verbas e o “sucateamento” de hospitais escolas. Além de greves que impossibilitam toda engrenagem de ensino.

Esse é um cenário catastrófico que jovens médicos enfrentam no dia a dia, onde a carência da teoria e da prática de excelência expõe uma população a erros, que não tão raramente custam uma vida.

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Antigamente, a preocupação era com os médicos mais “antigos”, aqueles que não buscavam por atualizações. Tal fator realmente é preocupante, pois a Medicina é para quem tem “sede” de saber, pois evolui a cada dia (e que bom que seja assim). Mas atualmente parece que estamos diante de um problema ainda maior.

Registro de Qualificação de Especialista

Como tentativa de  prover mais segurança no serviço médico prestado instituiu-se o Registro de Qualificação de Especialista (RQE), onde todo especialista qualificado deve ter seu RQE, além do registro referente ao Conselho Regional de Medicina (CRM).

Lógico que não se pode generalizar, mas saber quem é seu médico é muito importante!

Em um mundo de valores, muita vezes, invertidos, de fakes e onde temos muita dificuldade de “separar o joio do trigo”, alguns números significam muito mais que seguidores do Instagram! 😉

Fique atento em quem você confia a sua vida! Esse profissional tem que ter qualificação e valor, pois a sua vida é o seu bem mais precioso.